segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Fragmentos de mim

De um vazio nasce a dor. A dor se expande e traz inquietação. Surge a vontade de escrever. Sufocar com tinta e papel a angústia que mata a alegria... Calar com palavras silenciosas o grito que ensurdece a alma... Sanar com a harmonia entre os vocábulos as feridas do coração. Extravasar a agonia para consolidar a paz. Organizar a desordem interior através da fluidez da realidade. A fugacidade do tempo, das pessoas, da vida... A consciência da inconstância, a plenitude do nada. O tempo passa, o vazio aumenta, a dor se esconde e a inquietação permanece.

De volta!!!!

Depois de muito tempo "fora do ar", retorno às atividades. Espero poder postar com mais freqüência. Para começar, ou melhor, recomeçar, minha homenagem a um lugar muito especial... Salvador.

S de Saudade... ou seria de Salvador?

Brasil. País de muitas cores, muitas caras. Cada canto com seu jeito, seu traço peculiar. Muito se sabe – ou se pensa que sabe - sobre tantos lugares. A verdade é que muitos destes pré-conceitos caem por terra quando se conhece de perto a realidade de cada região.

Em minhas andanças além das Gerais desfiz alguns dos mitos que carregava comigo e derrubei outros tantos que algumas pessoas traziam consigo. Entretanto, o que realmente me marcou foi toda a peculiaridade – no melhor de todos os sentidos – de Salvador. Tudo o que envolve este lugar tem uma cor diferente, um quê de fascinante.

Cidade de luz e muita, muita alegria.

“A terrinha” – como é chamada – tem uma energia inexplicável, uma força que se pega no ar. Salvador é muito mais que carnaval e trio elétrico. É um lugar o qual vale a pena conhecer em qualquer época do ano. Comida baiana... humm. Maravilhosa! Acarajé, vatapá, cuscuz, camarão, graviola e água de coco, muita água de coco...

Cultura? Lá, você encontra por toda a parte. Ali começou o Brasil. E estar frente a frente com pedaços de nossa história – tudo aquilo que se lê e vê nos livros – é simplesmente indescritível. O estilo barroco do Pelourinho, as 365 igrejas, o colonialismo da Sete de Setembro, do bairro do Comércio, a modernidade da avenida Tancredo Neves, a beleza das praias, os fortes, o calor humano... A hospitalidade do povo baiano é um assunto que merece parágrafo a parte.

Aonde quer que vá encontrará um sorriso amigo e a informação de que precisa. Caso a pessoa a quem recorreu não a tenha, pode estar certo de que ela não vai sossegar até conseguir. Se há um lugar em que a população sabe como receber visitantes, este lugar é Salvador. A simpatia e simplicidade do povo de lá são tão espontâneas que chegam a desconcertar, desarmar de qualquer grosseria quem tenha em mente cometê-la.

O sotaque baiano também ajuda, pois, é encantador. Eles dizem “ôxi”, “mainha”, “painho”, mas, não vi um só que falasse “meu rei”. E olha que morei ali por três meses! A maneira como pronunciam o “s” no interior de uma palavra é inconfundível.

Volta e meia, como agora, me pego a lembrar algumas das muitas coisas que vivi por lá. Vem a saudade e a certeza de que um dia eu volto. Porque saudade é sinal de que bons momentos merecem ser revividos.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Viagem Através dos Livros

Dias atrás, me surpreendi pensando nas maravilhas da literatura, nas diversas funções que ela desempenha em nosso cotidiano e nos amigos a quem ela me apresentou. Arte, forma de expressão, de perpetuação de uma cultura. Mais do que isso, a literatura é a medicina da alma humana. Quer curar dores emocionais? Escreva! Você vai ver como após algumas linhas se sentirá mais aliviado.
Não importa qual seu grau de intimidade com a gramática ou com as palavras – é claro que estes itens lhe serão úteis, mas não devem servir de empecilho para que não se expresse. Afinal, emoções podem ser descritas de diversas formas e fluem a todo momento. Basta ter suficiente sensibilidade para mostrá-las. Muitas vezes, sem que percebamos, construímos textos, belos textos, ao conversarmos com amigos ou ao escrevermos cartas. Então, se somos capazes de relatar fatos em conversas informais, por que não os transferirmos para um outro lado da realidade?
Acha que não tem um bom vocabulário? Não é capaz de articular as idéias de forma conexa? Leia! Não gosta de ler? Não diga isso, é uma grande mentira. A todo momento realizamos uma leitura não explícita ou que não explicita em palavras escritas a mensagem a ser passada. Sabe quando você olha para uma pessoa e sem que ela diga uma só palavra, já conseguiu descobrir o que ela queria dizer? É mais ou menos assim que funciona esse método.
Vou dar um exemplo mais próximo do que quero dizer. Gosta de artes plásticas? O que lhe diz um quadro de Van Gogh, Cândido Portinari ou Tarsila do Amaral? Se conseguiu compreender a essência da obra de um desses artistas, não tenha dúvida, acabou de ler um livro. É isso mesmo, assim como os livros, quadros e esculturas trazem consigo uma parte de seu autor e uma história para contar. Para quem não se interessa por esse tema, há outra alternativa. Já tentou interpretar letras de músicas? Digo interpretar no sentido de sentir, questionar, analisar. É um bom começo para entrar no mundo mágico que a literatura nos reserva.
Caso nenhuma das situações anteriores não se enquadre em sua personalidade, resta-me dizer que converse. Isso mesmo. Converse muito. Eu adoro conversar com meus amigos! E foi o amor à literartuta que me aproximou de vários deles.
Cada um à sua maneira me mostrou caminhos que jamais pensei que pudessem existir. É incrível como eles me compreendem e falam de forma sensata sobre tudo o que guardo dentro de mim. Vou lhes apresentar a alguns deles, infelizmente, não poderei falar sobre todos.
Bom, começarei por Carlinhos. É ele mesmo, Carlos Drummond de Andrade. Este mineiro da cidade de Itabira me ensinou que “uma pedra no meio do caminho” não é o suficiente para deter um sonho. Porque somos do tamanho daquilo que vemos, não do tamanho de nossa altura.
Agora vou falar de Ceci. Cecília Meireles é uma grande amiga. “Carioca da gema” sempre diz que “A vida... Ah, a vida a vida a vida só é possível reinventada”. Sua visão de transitoriedade das coisas faz com que o leitor passe a ver o mundo de uma outra forma, mais leve e mais fugaz.
Ainda não falei de Vini? Vinícius de Morais, conterrâneo de Cecília, sempre mostrava a importância de se valorizar o momento, pois as coisas acontecem “de repente, não mais que de repente”.
E Tomás? Já ouviu algo sobre ele? Tomás Antônio Gonzaga, mineiro que participou da Inconfidência, foi exilado do país. Vida triste a dele. Além de não poder viver em sua nação, teve que ficar longe de seu grande amor... Maria Dorotéia, a Marília do livro “Marília de Dirceu”. Acha que vou falar mais a respeito dele? De forma alguma! Não vou trair a confiança que depositou em mim ao contar sua história. Quer saber mais sobre este fabuloso escritor? Leia uma de suas obras. Elas são o resumo de sua trajetória.
Nossa... Conversar com Machado é algo fascinante! É viajar em tramas incomparáveis, analisar psicologicamente personagens e lidar com uma ironia que nos faz refletir constantemente sobre a condição humana.
Álvares apesar de um tanto dramático e boêmio é muito agradável. Está certo que é saudosista e fala da morte o tempo todo. Mas, uma coisa lhe garanto, “foi poeta - sonhou - e amou na vida”.
Weber, alemão determinado, fala muito bem da política e dos com que ela estão envolvidos. Relações de poder, Estado e sociedade. Vale a pena dialogar com ele.
Dudu, mais conhecido como Durkheim, era francês. Dedicado à sociologia, deixou bem claro que “os fatos sociais devem ser tratados como coisas”, pois são “externos ao indivíduo” e “exercem uma coerção sobre ele”. No início, este sociólogo parece uma pessoa complicada, mas com o tempo, você começa a entendê-lo.
Descartes, francês assim como Dudu, com sua máxima “penso, logo existo”, deu à racionalidade humana um outro aspecto. De abstrata, pode-se dizer que a razão passou a ser algo mais concreto e plausível para o homem.
Amigo incomparável, sem querer desmerecer os demais, é Sócrates. Nascido em Atenas (Grécia), este homem é um marco na história da filosofia. Sábio, ponderante e, acima de tudo, modesto, ele sempre dizia: “Tudo o que sei é que nada sei”. Com esta frase Sócrates queria dizer que ninguém é capaz de saber tudo, pois, quanto mais se conhece algo, mais se percebe o quanto ainda nos falta para aprender.
Deixo bem claro aqui que para ler não é preciso necessariamente ter um livro em mãos. Afinal, como diz Paulo Freyre: “A leitura do mundo antecede a leitura da escrita”. Sendo assim, olhe bem ao seu redor, leia a mensagem que o mundo está lhe transmitindo e a transcreva para o seu cotidiano.
Pois: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Célebre a frase de meu amigo Fernando, não acha? Quer mais algumas de suas palavras? Está bem. “Não sou nada. Não serei nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Poeta modernista português, Fernando Pessoa é tão importante que ganha destaque nos livros de literatura. Com uma genialidade como a dele, nada mais justo.
Tenho muitos outros amigos dos quais gostaria de falar, no entanto, me seriam insuficientes estas linhas que me restam. A literatura me aproximou de vários deles e me conduziu a mundos jamais visitados anteriormente. Mais do que uma forma de expressão, a literatura é o remédio para as enfermidades da alma, solução para os problemas da mente e alívio para as sobrecargas emocionais.

Ana Cláudia Mendes